quinta-feira, 22 de julho de 2010

A dimensão estruturante da tecnologia em educação.

Neste texto eu resolvi fazer uma análise de dois aspectos das tecnologias aplicadas no contexto educacional: uma é sua abordagem como ferramenta e a segunda a sua dimensão estruturante.

A primeira se refere ao uso voltado para melhorar a performance do professor em sala, visando somente aumentar a qualidade da aula expositiva, assegurar o controle sobre os alunos , criar estímulos visuais, otimizar o gerenciamento de notas e assim garantir um aumento no aprendizado. Neste caso as tecnologias em educação são encaradas como ferramentas utilizadas pelo professor para se atingir objetivos.

A idéia de tecnologia como elemento estruturante trabalha com o uso das tecnologias no sentido de se desenvolver espaços de produção, autoria e partilha de conhecimentos. Neste espaço o professor é um mediador de um processo, orientando o estudante e mostrando o campo de possibilidades de criação utilizando as novas tecnologias.

Quando comparei os dois casos notei que há pontos de superação do segundo em relação ao primeiro, e neste texto me limitarei a trabalhar três destes pontos mas sem pretensões de esgotar a discussão.

O primeiro ponto de superação é referente ao grau de interatividade: muitos pensam que basta levar um PC para a sala de aula, conectá-lo a um projetor, exibir uma apresentação em Power point e todos os problemas estarão acabados. Uma apresentação deste tipo é realmente atraente e estimula a atenção, mas ainda não é o bastante, porque o aluno ainda é passivo, a aula é trabalhada de forma expositiva, mudaram somente os recursos. Trabalhando de maneira estruturante o professor traz uma proposta de trabalho onde, professor, aluno e recursos estão envolvidos em um processo no qual o aluno interfere e escolhe os caminhos que deve seguir sob orientação do docente, passa por uma etapa de pesquisa, cria seu texto e seu produto final é uma apresentação usando novas tecnologias e que podem estar ligadas a outras apresentações que sigam seu estilo através de recursos como o hyperlink.

Possibilitar ao estudante a escolha de qual caminho trilhar e criando um produto utilizando algum tipo de tecnologia em educação nos leva ao segundo ponto de superação: a autoria, a aula expositiva do professor possui um grau de interferência muito baixo, professores mais experientes são capazes de estimular a participação dos alunos com questionamentos exibindo vídeos ou fazendo análises iconográficas e inocológicas de fotos,mas ainda assim o processo de criação fica limitado às mãos do professor, este tipo de aula não possibilita que o aluno crie e para que tal situação aconteça, o uso destas tecnologias devem ser utilizadas por todos na sala e aula o PC, o software, o projetor, todos estes elementos devem ser encarados como parte de um processo maior onde há momentos de problematização, buscas por respostas e um produto final, onde os envolvidos assumem a autoria e responsabilidade sobre tudo que é produzido, ao invés de simplesmente se limitarem a colar fotos em um painel e decorar textos da internet. A tecnologia entra assim como elemento estruturante, criando novas formas de saída para este conhecimento produzido.

A possibilidade de se criar novas saídas para a produção em sala nos leva ao terceiro ponto de superação: a quebra de linearidade. A publicação de trabalhos com hyperlinks, seja ela online ou offline, possibilita com que o leitor estude tema variados. Estudantes podem ligar seus trabalhos a outros caso estes possuam algum tipo de afinidade, fazendo assim com que eles se complementem e criem uma rede onde estes conhecimentos estejam ligados de uma forma que não exista uma “ordem” estabelecida do que deve ser estudado, o leitor busca o conhecimento a partir de necessidades próprias, por exemplo, eu posso estudar sobre meio ambiente e no meio daminha leitura deparar com um hyperlink sobre “aquecimento global”, o tema principal não foca todos aspectos sobre aquecimento global mas me mostra um caminho onde escolho se devo ou não me aprofundar mais neste tópico no momento em que eu assim desejar. Antigamente eu terminaria a leitura principal para em seguida partir em busca do novo tema, agora é possível criar o hyperlink e enriquecer a leitura.

Não se trata somente de afirmarmos que “não devemos usar as novas tecnologias para criar aulas expositivas”, mas sim entendermos o campo de possibilidades existentes no uso dos novos recursos tecnológicos como elementos estruturantes, acredito que aulas expositivas sempre existirão com ou sem estes novos recursos, o que nós não podemos é fazer delas a nossa única opção, além disto existem problemas no tocante a metodologia com estes elementos estruturantes, acredito que a utilização plena deles somente acontecerá quando ocorrer uma revisão geral sobre o que é educação, ou melhor como a sociedade encara este conceito. Será que é possível explorar este campo de possibilidades em salas com 40 estudantes e ainda assim garantir qualidade de trabalho? As equipes pedagógicas das escolas estão prontas para revisar o conteúdo programático, habilidades e competências, processo avaliativo e discutir novas propostas de produção? São questionamentos que acredito serem pertinentes uma vez que propostas de interatividade,autoria,quebra de linearidade e criação de redes educacionais exigem uma nova postura dos profissionais envolvidos em educação.